O perigo da banalização
Por Carlos Hilsdorf*
Toda época traz sempre, inevitavelmente, suas oportunidades e ameaças. Se observarmos com atenção a História da Humanidade, verificaremos que o declínio de quase todas as civilizações se deu frente a pouca atenção dedicada às ameaças mais evidentes!
Estranho observar que estas ameaças estão evidentes por um longo período de tempo antes que suas conseqüências cruciais ocorram e, no entanto, ninguém faz nada a respeito.
A atualidade também nos apresenta a sua lista de oportunidades e ameaças. Chama-me a atenção uma das que considero mais perigosa: a banalização.
Banalizar é tornar algo “estupidamente” comum e sem importância, vulgarizar. Fazer com que algo perca a importância é uma das estratégias mais eficazes para destruir, em definitivo, o poder de um fato, uma idéia.
Observe que com a revolução sexual não obtivemos apenas as vantagens de olharmos para o sexo de maneira mais humana e menos pecaminosa, mas também, como resíduo, obtivemos uma banalização do sexo. O sexo, nestas condições, perde suas dimensões mais humanas, onde o encontro dos corpos consuma o encontro das almas, para manifestar apenas sua conotação mais primitiva e nitidamente animal: a manifestação do instinto sem a participação da razão e do sentimento.
Esta banalização, para uma imensa maioria das pessoas, resultou num distanciamento entre sexo e prazer, uma vez que tudo aquilo que se torna banal perde intensidade.
E as banalizações seguem:
A banalização da música trouxe à imensa maioria das rádios qualquer tipo de ruído ritmado como se fosse música e qualquer amontoado de palavras sem sentido como se fosse letra.
A banalização da literatura faz com que os livros de auto-ajuda configurem a maioria absoluta da produção e consumo de livros na nossa cultura.
A banalização da corrupção faz com que o slogan “rouba, mas faz” torne-se quase uma declaração de voto de uma imensa maioria de eleitores, como se tivéssemos que escolher entre um corrupto que apresenta resultados e outro, igualmente corrupto, mas apenas retórico.
A banalização da amizade torna as pessoas cada vez mais “colegas” e menos amigas.
A banalização do envolvimento afetivo faz com que os jovens prefiram “ficar”, fazendo múltiplos “ test-drive ” a cada final de semana para finalmente concluírem que não conhecem seus sentimentos.
A banalização da utilização de ansiolíticos e anti-depressivos faz com que as pessoas acreditem que a pílula da felicidade existe...
A banalização dos relacionamentos eterniza o resultado de um excesso de uísque que Vinícius de Moraes postulou “...que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure...” compreendido pelas pessoas como “seja lá o que Deus quiser...”
No mundo corporativo as coisas não são diferentes:
A banalização da responsabilidade social faz hábeis marketeiros sociais desprovidos de responsabilidade.
A banalização do empowerment faz com que se delegue poder independentemente se as pessoas estão ou não preparadas para lidar com ele.
A banalização das vivências faz com que se acredite que se as pessoas riram muito, ou choraram muito, então valeu a pena...
A banalização das palestras dá espaço aos que não tem absolutamente nada a dizer em detrimento de grandes seres humanos e profissionais que, muitas vezes, trabalhando dentro da própria organização, não são ouvidos com a atenção e consideração que lhes é devida.
A banalização das pós-graduações e MBAs transformam uma importante etapa de reciclagem profissional em uma máquina caça-níquel e uma compra escancarada de “linhas a serem incluídas no currículo”, isso sem falar na esmagadora maioria das aulas que chegam, às vezes, a beirar o ridículo.
A banalização das campanhas de incentivo, premia sempre as mesmas pessoas pelo mesmo padrão de desempenho, medindo volume ao invés de medir a contribuição efetiva que cada negócio proporcionou à organização, e a evolução efetiva das competências de cada profissional.
E assim, estamos diante de uma época onde a banalização da religião propõe benefícios materiais de curto prazo ao invés de evolução espiritual no longo prazo.
Onde os alunos nos cursos de graduação fingem que estudam enquanto alguns professores fingem que ensinam.
Onde individualmente não podemos fazer nada e quando nos reunimos nas associações, reuniões, cooperativas, congressos, etc, acabamos por declarar que nada pode ser feito...
Como citei no início do artigo, todas as civilizações são destruídas por suas ameaças mais evidentes, porque de tão evidentes tornam-se banais, misturam-se à paisagem, incorporam-se ao cotidiano e, a sociedade adia constantemente as ações conjuntas necessárias para mudar o estado das coisas.
As Tsunamis, furacões, maremotos, degelos de calota polares, poluição dos mares, efeito estufa, desmatamentos, atos terroristas, surgimento de novas ditaduras, e centenas de outros gravíssimos crimes contra a Humanidade estão tão banalizados que é comum ouvirmos as pessoas falarem sobre eles como se fossem as coisas mais normais e, é claro, terminando sempre com a frase: “Ainda bem que isso ainda não chegou por aqui...”
Ah ignorância e ingenuidade, até quando pagaremos o teu preço?
Até quando todos nós nos responsabilizarmos por não permitir que banalizem nossa existência com nosso total “descomprometimento”, concordância e apoio!
Que tal começar não permitindo que menosprezem nossa inteligência, sentimentos e valores?
Não precisamos mais de heróis, mas de pessoas comuns com a coragem necessária para dizer não e a atitude necessária para dar o exemplo!
* Carlos Hilsdorf é colunista do Empregos.com.br, economista, Conferencista, consultor, Pós-Graduado em Marketing, pesquisador do Comportamento Humano e autor do livro Atitudes Vencedoras.
Recrutamento e Seleção de Pessoal(HUNTING de Especialistas, Gerentes, Coordenadores, Analistas Senior), vagas de emprego e Recolocação Profissional (OUTPLACEMENT) em áreas diversas. Orientação de Carreira, Laudos Psicológicos de profissionais especializados e executivos. Unidade São Paulo e Vale do Paraíba (Guaratinguetá) (12) 9 9786-7919 Vivo e (12) 9 8230-3766 Tim com Lúcio. skype: alcance.rh
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